quarta-feira, 6 de julho de 2011

eu receberia as piores notícias dos seus lindos lábios

Acordo e vejo que recebi e-mail de um amigo, dizendo que quer me mandar dois trechos do livro que ele está lendo. O livro é "Eu receberia as piores notícias dos seus lindos lábios", do Marçal Aquino.

O primeiro, diz ele, combina com meu blog. O segundo, com a vida. Abaixo, os dois.

O nome dela é Sandra, eu disse.

No livro que eu tinha na mão, o único sobrevivente da minha biblioteca, Schianberg escreveu: o detalhe é alma de toda fantasia. Qualquer detalhe, por inusitado ou pervertido que seja. Daí os fetiches. A particularidade do desejo. E um detalhe pode tornar-se muitas vezes mais excitante que a própria fantasia. Dei razão a Schianberg ao presenciar a reação do meu vizinho.

Sandra, ele repetiu, alheio.

Como se saboreasse o nome. Seus olhos brilharam com promessas de noites solitárias de luxúria. Daí, voltou a si e me olhou. E disfarçou, inclinando nos autos uma informação desnecessária.


***

Tem sido assim os meus dias. Sou mais feliz que 97,6% da humanidade, nas contas do professor Schianberg. Faço parte de uma ínfima minoria, integrada por monges trapistas, alguns matemáticos, noviças abobadas e uns poucos artistas, gente conservada no caldo da mansidão à custa de poesia ou barbitúricos. Um clube de dementes de categorias variadas, malucos de diversos calibres. Gente esquisita, que vive alheia nas frestas da realidade. Só assim conseguem entregar-se por inteiro àquilo que consagraram como objeto de culto e devoção. Para viver num estado de excitação constante, confinados num território particular, incandescente, vedado demais. Uma reserva de sonho contra tudo que não é doce, sutil ou sereno. É o mais próximo da felicidade que podemos experimentar, sustenta Schianberg.

Não sei que nome você daria a isso.

Bem, não importa muito, chame do que quiser.

Eu chamo de amor.  
   


O livro, diz ele, vai me emprestar. Eu aguardo.

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