quinta-feira, 21 de julho de 2011

marlboro vermelho

Bonito. Mas de uma beleza tão monótona e sustentada por camisas perfeitamente passadas e abotoadas, tênis limpos e amarrados, cabelo e barba sempre tão bem aparados, que não me despertava qualquer interesse. Nenhuma tatuagem a me intrigar por baixo da manga da camisa quando um gesto brusco a tira do lugar, nenhum dia com olheiras de ressaca, nenhuma conversa ao celular que o fizesse se afastar dos olhares e ouvidos, nenhuma cicatriz: tudo perfeitamente combinando para que ele merecesse titulo de bom filho, bom namorado, bom funcionário, bom rapaz.

Todo mundo precisa ter algo que destoe na séria composição de pessoa adulta, feliz e bem resolvida. Algo que denuncie que em algum momento a racionalidade desandou. Tem que haver algo de obscuro, de surpreendente, que aponte uma tristeza ou insanidade, que desperte vontade de investigar, de querer conhecer, perguntar 'como isso te aconteceu?' e querer  mais; e não tinha. Mas era bonito, e eu queria que tivesse.

Era tarde e eu estava imersa no meu mundo, fora do nosso ambiente sério e cercado de pessoas conhecidas, naquele bar bagunçado, onde doces, balas e maços de cigarros se misturavam no balcão ao lado de pacotes de amendoim e a voz dos homens conversando na calçada e a risada das mulheres ao celular não me deixava ficar totalmente atenta ao que acontecia ao meu redor. Eu pagava minha coca-cola quando ouvi a voz – que também era perfeita, um pouco rouca e nunca fora do tom: “um Marlboro vermelho”.

A camisa com os botões fechados, perfeitamente passada. O gesto tímido. A voz dentro do tom, os tênis brancos, o relógio de pulso e o Marlboro vermelho na mão: não combinava.

Era a destonancia que eu precisava para no momento seguinte imaginá-lo debruçado na sacada, sem camisa, despenteado, sorrindo de um jeito que eu nunca vi, e fumando. Enquanto eu, na cama, ainda me recompunha.

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