segunda-feira, 1 de setembro de 2014

arrebate





você saiu e ficou no ar o cheiro do café passado há pouco pro nosso último gole antes da despedida. e seu cigarro ainda soltando fumaça no cinzeiro lembra que há uma semana você chegou com os pés na porta de quem mantinha peito fechado.

fica no ar a fumaça esmaecendo, pra eu lembrar que tão cedo não devo esquecer. dentre as memórias, seu cabelo caindo no meu peito e absorvendo com as pontas o meu cheiro. eu te mandando lavar, você rindo da minha cara, e no fim preferindo levar meu cheiro embora nas pontas desses cabelos sujos.

depois de sete dias de overdose de você, você deixa a fumaça pra me fazer pensar. eu respiro o cheiro da sua boca, deito na cama dos mesmos lençóis de quando você entrou na minha vida e penso no bálsamo que é essa gente que chega com os pés na porta arrombando coração, no melhor estilo "eu não quero saber se você quer. eu quero e ponto".

faz anos que eu tenho andado desviando de gente que quer mais é se aproximar. e faz anos que eu venho tentando me encontrar em quem nada tem de mim - truque inconsciente de me esquivar de um verdadeiro encontro de almas.

então, como se tivesse vindo ao mundo pra inventar certezas alheias, para prática e não teoria, você surge sem ao menos me deixar tentar fugir, antes mesmo me deixar ter vontade de correr.

você chega com malas, cabelo bagunçado, cigarro aceso e esse coração que vale por dois, por mil, pelo seu e pelo meu, e joga tudo no chão da minha sala como se daqui pra frente fosse ser assim pra sempre. cinco anos colocando fechaduras nessas portas e você passa por todas elas sem bater, como se tivesse chave ou dom de bandidagem.

depois sai por cinco dias, mas deixa em cima da mesa o maço de cigarros pra me lembrar que vai voltar. enquanto isso, eu que me vire com sua presença, que de mim não vai sair.

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