quinta-feira, 28 de julho de 2011

pretensão minha

Cinco anos e eu ainda lembro da última vez que te vi. Você descrevia a mulher da sua vida e era eu nas suas palavras. Depois eu falei do único homem capaz de me fazer pensar em trocar alianças, ter filhos e passar anos e anos dividindo a vida, e era você; mas o dia já vinha amanhecendo, o seu ônibus iria chegar e fingimos que era uma loucura desejar alguém assim: igual a mim, igual a você. Fingimos também que não falávamos de nós mesmos, ou talvez não soubéssemos realmente que falávamos de nós.

Seu ônibus chegou e eu te vi indo embora naquela rua que ficava azul pelo fim da madrugada. Eu fui pra casa e comi uma maçã. Você dormiu no ônibus (eu sei porque no dia seguinte você me contou). Nós não nos preocupávamos com nós dois.

Hoje arrumando as malas eu pensei nas últimas coisas que você me disse quando eu falei que ia te ver. “Acho que você não vai gostar mais de mim. Eu mudei muito”. E logo pude imaginar nós dois nessa tarde de sol que vai ser de cinco anos depois. À noite estaremos já bêbados e tão íntimos de novo que nada mais vai ser novidade: mal perceberemos os cinco anos de distância desde a última vez. Mas à tarde, eu sei: vai ser tudo novo.

Eu faço mentalmente a lista de coisas que preciso levar e penso nas suas palavras. Ainda assim, arrumo as malas. Porque eu, como você sabe, não mudei; e continuo acreditando que você é aquela pessoa que sabe disfarçar muito bem quem realmente é. E que na minha presença, tudo muda para melhor.

Um comentário:

Anônimo disse...

Bonito e um pouco triste.