domingo, 20 de março de 2011

como eu vim parar aqui


"Escrevo por ter nada a fazer no mundo: 
sobrei e não há lugar para mim na terra dos homens"
                                                   Clarice Lispector




eu namorava e nos dávamos bem: tínhamos brigas rotineiras que acabavam em sexo, viajávamos juntos, ele era gentil, educado, bonito e me comprava chocolates. eu comprava cds, livros, e o acordava com carinhos sempre que podia: eramos felizes. mas se em alguns momentos da vida tudo que se quer é felicidade, em outros desejamos tormenta, que muitos interpretam como o contrário da felicidade. eu quis tormenta: noites sem sono, dias de ressaca e esmalte descascando nas unhas mal cuidadas. foi assim até eu tomar a decisão de abrir mão da segurança que eu tinha ao lado dele.

o dia que terminamos foi dos mais doloridos da minha vida. já estive em velório de gente querida, e isso é uma dor imensa, mas e quando é tudo sua escolha, está tudo nas suas mãos? e o céu estava em tons de laranja, o sol se escondia lá fora e eu via tudo pela janela daquele apartamento que agora não era mais nosso. eu chorei, ele chorou, e sabíamos que ainda existia amor ali, mas eu não poderia continuar com a dúvida do 'o que é que eu tô fazendo da minha vida'.

algo que eu admiro nas pessoas é coragem pra mudar as situações. eu teria mil motivos para continuar, e o maior deles: era confortável. era bom, mas nesses anos de vida a dois eu me perdi de mim – a gente se doa quando ama, não? - e eu precisava me encontrar, e nessa busca (ai que brega) eu não poderia foder a vida de alguém que me amava. então, foi assim: siga seu caminho, que eu vou seguir o meu.

chorei por dois dias seguidos: no ônibus, na fila do banco, antes de dormir. escolhi encarar a tristeza, agarrá-la, vivê-la até que ela se esgotasse, chorar até não ter mais lágrimas. no final do segundo dia um amigo me chamou para sair, tomei um porre e as coisas começaram a clarear.

decidi, então, curtir os homens, as mulheres, a vida. eu sei que as pessoas que têm um namorado, um noivo, um marido, uma mulher, também aproveitam a vida. mas é preciso estar preparado pra isso e eu, de verdade, não estava. foi uma das poucas vezes que a razão falou mais alto em mim. por enquanto tem dado certo.

e eu, que não sei pensar sem escrever, estou aqui.


                                                                                                                                                 

2 comentários:

M.M. disse...

Raquel,
Também não acredito nas generalizações que você citou ali em cima. Já começamos bem.
Eu terminei um relacionamento de bem mais de 5 anos, que era cômodo e com um cara muito legal e tal, porque eu sabia que queria e podia mais. Que ainda tinha muita vida e, na relação, me sentia morta. E, claro, queria me encontrar de novo. Eu estava perdida. Não no bom sentido.
Estava comentando com um amigo outro dia que as pessoas me acham louca por essa atitude, como se eu tivesse a obrigação de continuar com alguém só porque esse alguém me ama e é bom. Como se eu não merecesse nada mais e devesse levantar as mãos pros céus.
Enfrentar não é fácil. Mas é bom. Muito bom.
Gostei.

Beijo

MeninaMisteriosa

Thiago Rocha disse...

Legal a atitude!
Eu admiro qdo alguém toma uma decisão que contraria o senso comum. Até pq, o senso comum mtas vezes é só o que é mais fácil, mais fácil de justificar pra si e pros outros, mesmo que a pessoa não esteja satisfeita.
O que seria foda seria sair com outras pessoas e continuar namorando. Alguém que te ama e te trata bem sendo feito de idiota
Gostei do blog!